segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

CAMINHOS DA AVALIAÇÃO

Os caminhos para a avaliação são muitos, mas todos exigem reflexão e atenção, como destaca a composição "Relance", interpretada por Gal Costa.



A leitura compartilhada da composição e a interpretação de Gal Costa evidenciam a riqueza da oralidade e expressividade do corpo em movimento. Como bem afirmou Marcuschi escrita e oralidade não são concorrentes, mas sim formas diferentes de se expressar conforme as demandas de interação social.

A referência à morte e ao renascimento que finalizam a composição reafirmam a importância de que estejamos flexíveis às mudanças. Ação essencial para a compreensão da avaliação para além da atribuição de conceitos estanques.

Para complementar esse movimento reflexivo, as professoras foram convidadas a realizar uma andança pelo CEU Casa Blanca para avaliar o equipamento. No percurso, foram se destacando as diferentes formas de avaliar e ampliando-se as indagações sobre os critérios de avaliação e sobre o que seria uma avaliação justa.




Ao retornarem à sala, as professoras se organizaram em grupo e compartilharam seus resultados que evidenciaram dissonantes formas de proceder à avaliação e comprovaram que sem critérios compartilhados não há como uma unidade proceder uma avaliação que contribua com a aprendizagem da pessoa avaliada. Na sequência, a apresentação da fábula sobre avaliação confirmou esses resultados.

Uma fábula sobre avaliação

Era uma vez... uma rainha que vivia em um grande castelo. Ela tinha uma varinha mágica que fazia as pessoas bonitas ou feias, alegres ou tristes, vitoriosas ou fracassadas. Como todas as rainhas, ela também tinha um espelho mágico. Um dia, querendo avaliar sua beleza, também ela perguntou ao espelho:
- Espelho, espelho meu, existe alguém mais bonita que eu?
O espelho olhou bem para ela e respondeu:
- Minha rainha, os tempos estão mudados. Esta não é uma resposta assim tão simples. Hoje em dia para responder à sua pergunta eu preciso de alguns elementos mais precisos.
Atônita, a rainha não sabia o que dizer. Só lhe ocorreu perguntar:
- Como assim?
- Veja bem - respondeu o espelho - Em primeiro lugar, preciso saber por que Vossa Majestade fez esta pergunta, ou seja, o que pretende fazer com minha resposta. Pretende apenas levantar dados sobre seu ibope no castelo? Pretende examinar seu nível de beleza, comparando-o com o de outras pessoas? Ou sua avaliação visa ao desenvolvimento de sua própria beleza, sem nenhum critério externo? É uma avaliação considerando a norma ou critérios predeterminados? De toda forma, é preciso, ainda, que Vossa Majestade me diga se pretende fazer uma classificação dos resultados.
E continuou o espelho:
- Além disso, eu preciso que Vossa Majestade me defina com que bases devo fazer esta avaliação. Devo considerar o peso, a altura, a cor dos olhos, o conjunto? Quem devo consultar para fazer esta análise? Por exemplo: se consultar somente os moradores do castelo, vou ter uma resposta; por outro lado, se utilizar parâmetros nacionais, poderei ter outra resposta. Entre a turma da copa ou mesmo entre os anões, a Branca de Neve ganha estourado. Mas, se perguntar a seus conselheiros, acho que minha rainha terá o primeiro lugar. Depois, ainda tem o seguinte - continuou o espelho - Como vou fazer prova para verificar o grau desta beleza? Utilizo a observação?
Finalmente concluiu o espelho:
- Será que estou sendo justo? Tantos são os pontos a considerar...
(Adaptação de Michael Quinn Patton, traduzida pela Prof Clarisa Souza)


Toda avaliação requer critérios e intencionalidades, caso contrário será autoritária e inútil. A Avaliação não é neutra, pois está revestida de questões sociais, éticas, étnico-raciais, de gênero entre tantas outras que, se não forem observadas, podem ignorar direitos e validar injustiças e exclusões.

Sobre o tema, as professoras dialogaram também com Luckesi no vídeo a seguir:



Na sequência de ações, todas as turmas PNAIC da DRE Campo Limpo se reuniram no auditório do CEU Casa Blanca para ouvir a contação da história "A moça tecelã" realizada pela Orientadora de Estudos Elaine Lacerda. 

No texto destaca-se a oportunidade da moça de refazer ou "destecer" parte de sua história cuja construção não lhe trouxe felicidade. 



Como afirma Esteban, no excerto a seguir, o processo ensino/aprendizagem é tecido por muitos fios.


Com essas reflexões, as professoras procederam à análise em grupos de questões simuladas da Prova ANA

Os diálogos destacaram que nem sempre o item avalia aquilo a que se propõe, o que requer que toda escola e comunidade ampliem seus conhecimentos sobre essa avaliação externa para que tenham condições efetivas de verificar sua repercussão e propor-lhe novos rumos. 

Outro dado interessante é que, embora a ANA tenha sido idealizada para avaliar o impacto das ações formativas PNAIC, a organização da matriz de avaliação renunciou ao termo direitos de aprendizagem em nome do termo habilidade, talvez revelando o quanto a avaliação externa pode se afastar da pessoa avaliada em nome dos padrões.

A avaliação externa sempre será limitada, pois se sustenta na padronização, por isso, é preciso enfatizar a supremacia das avaliações internas sobre as externas e combater o movimento comum de "preparar" as crianças para provas. As crianças precisam ter diversas oportunidades de aprendizagem, nesse sentido, todo processo está em constante avaliação, mas sempre com a intencionalidade de favorecer sua aprendizagem e, de maneira alguma, sua classificação e exclusão.

Os vídeos 3% e Escalada a la vida, que podem ser conferidos a seguir, são propulsores de uma boa discussão sobre as intencionalidades das avaliações e os diferentes rumos que podem tomar dependendo de quem tem o poder de planejá-las.





O primeiro vídeo evidencia a avaliação como um processo manipulado por um grupo com poder hegemônico, que incute nas pessoas uma ideologia de que apenas os "melhores" alcançarão o "topo" a partir da competição e meritocracia. O segundo enfatiza o percurso, pois mais importante ao escalador é a liberdade de realizar escolhas, a tomada de decisões em busca da realização de seu projeto pessoal.

Pode-se afirmar que em "3%" os projetos pessoais e as próprias pessoas são obsoletas, enquanto em "Escalada a la vida" só os projetos pessoais justificam a escalada, o que representa um estado de liberdade, coragem e expressão da criatividade.

E vocês o que acham? Os vídeos dialogam com a realidade da avaliação escolar?

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