domingo, 21 de julho de 2013

SONDAGEM: INVESTIGAÇÃO E INTERVENÇÃO

A prática da sondagem ganhou destaque a partir da teoria da psicogênese e se fundamenta no princípio de que todas as crianças constroem hipóteses sobre o sistema de escrita alfabética antes mesmo de estarem alfabetizadas. 

Nesse sentido, quanto mais a criança convive em um ambiente alfabetizador no qual, além do contato com livros e outros materiais escritos, ela é estimulada a ler por meio da interação com pares mais avançados, mais se amplia o seu universo de conhecimentos sobre o sistema alfabético.

Por meio da sondagem o professor pode “sondar”, investigar os conhecimentos do aluno sobre o SEA e promover intervenções adequadas para fazê-lo avançar em suas hipóteses.

Os estudos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky determinaram as hipóteses sobre o conhecimento da escrita vivenciadas pela maioria das crianças e as classificaram como pré-silábica, silábica quantitativa (sem valor sonoro) e qualitativa (com valor sonoro), silábico-alfabética e alfabética.

No quarto encontro do curso PNAIC na região da DRE Campo Limpo, os professores alfabetizadores aprofundaram seus conhecimentos sobre a sondagem por meio de atividades e do suporte do texto de Marília de Lucena Coutinho: “Psicogênese da língua escrita: o que é e como intervir em cada uma das hipóteses? Uma conversa com professores”. Nesse texto, além de explicar os níveis de conhecimento sobre a escrita, a autora apresenta propostas de atividades que auxiliam os alunos a avançarem em seus conhecimentos.

Veja abaixo, um breve resumo sobre  essas hipóteses e as possíveis intervenções pedagógicas:

Pré-silábico: nessa fase, os alunos já sabem que se escreve utilizando símbolos, mas ainda não diferenciam as letras de outros sinais gráficos e é comum que associem o tamanho da palavra ao tamanho do objeto representado. Nesse caso, é importante que o professor organize atividades de consciência fonológica em que os alunos são desafiados a perceber que palavras que começam ou terminam com os mesmos sons são escritas com as mesmas letras. O trabalho com palavras estáveis como os nomes dos alunos auxilia a perceber que partes iguais se escrevem de forma semelhante e partes de nomes de um aluno podem ser encontradas em outros nomes. A exploração de textos conhecidos de memória também favorece o ajuste da pauta sonora à escrita do texto.

Silábico quantitativo e qualitativo: os alunos já sabem que a escrita está relacionada à pauta sonora, mas associam a quantidade de letras aos segmentos sonoros pronunciados, por isso é comum que para cada sílaba seja grafada uma letra, sem correspondência sonora em um primeiro momento e, depois, com correspondência de pelo menos um dos sons da sílaba representada. Nessas fases, os alunos passam pelos conflitos da quantidade mínima e da variedade de letras para escrever, por isso não aceitam que palavras monossílabas ou dissílabas sejam escritas apenas com uma ou duas letras, ou que duas palavras sejam escritas da mesma maneira. As atividades pedagógicas devem ajudar os alunos a perceber que a sílaba não é a unidade mínima das palavras. Para tanto, atividades de ditado podem ser produtivas, contanto o professor as problematize com os alunos de maneira que reflitam sobre a grafia das palavras. Atividades de cruzadinhas também são importantes, pois para cada quadradinho o aluno terá que colocar apenas uma letra, o que o levará a rever suas hipóteses.

Silábico-alfabético e alfabético: nessas fases, os alunos já sabem o que a escrita nota, mas, no caso do silábico alfabético, ainda oscilam grafando algumas sílabas das palavras com apenas uma letra. O aluno, na fase alfabética, já é capaz de estabelecer todas as relações entre grafemas e fonemas, mas ainda tende a escrever como se fala. Atividades como cruzadinhas são bastante produtivas, pois promovem a reflexão sobre a quantidade de letras para os silábicos alfabéticos e sobre a ortografia para os alfabéticos. O trabalho com palavras estáveis deve continuar, mas com foco nas regularidades e irregularidades na relação grafema fonema.

É importante que não se confunda sondagem com ditado. A sondagem é um momento de investigação, por isso o ideal é que não seja feita coletivamente, pois o professor precisa ditar as palavras para o aluno e solicitar que ele as leia para que consiga perceber quais suas hipóteses sobre o sistema de escrita e poder intervir de maneira a proporcionar avanços em seus conhecimentos. 

Como afirma Maria José Nóbrega não há problemas em o professor fazer intervenções durante a sondagem, o que não podem ser feitas são "intervencionices", ou seja, é preciso fazer intervenções que auxiliem os alunos a refletirem sobre alguns conflitos, mas sem insistências ou interferências pouco produtivas.

É sempre importante lembrar que a sondagem é um instrumento de avaliação e dessa maneira deve ser planejado tendo em vista o avanço na aprendizagem dos alunos e não apenas a sua classificação em determinado grupo, por isso é fundamental que após qualquer avaliação sejam fitas interferências que promovam avanços na aprendizagem e não apenas rotulem os alunos.

Lembram do vídeo "sobrevivente"?






No segundo momento do curso, os professores conheceram o material de leitura Trilhas (um kit de orientações e jogos e um acervo de 20 obras literárias) que propõe sequências de atividades favoráveis ao desenvolvimento da leitura, escrita e oralidade nos anos iniciais do ensino fundamental.



Em uma classificação didática, as orientações e os livros estão organizados em trilhas para abrir o apetite poético e trilhas para ler e escrever textos. Neste encontro, foram trabalhadas apenas as trilhas para ler e escrever textos. Os professores se organizaram em grupos e receberam os seguintes gêneros de histórias para análise: clássicas, com engano, com repetição, com acumulação e com animais.

O objetivo dessa atividade, além do conhecimento do material Trilhas, era promover a percepção da importância do trabalho com a leitura no ciclo de alfabetização e as possibilidades de desenvolvimento de projeto com o acervo PNAIC que já começou a chegar às escolas.

Os professores alfabetizadores precisam conhecer o acervo literário das escolas em que atuam e utilizá-los em seu planejamento, garantindo momentos de leitura frequente e sequências de atividades que ampliem e favoreçam também a escrita a e a oralidade das crianças. 

Dessa maneira, mesmo escolas que não receberam o material do Trilhas podem organizar suas próprias trilhas literárias, aliás, esse é o ideal para todas as escolas!

Para maiores informações sobre o acervo do Trilhas todos os professores podem se cadastrar no site www.portaltrilhas.org.br e ter acesso aos cadernos de orientação e aos jogos.


LEMBRETE: Trabalho pessoal: Explorar os cadernos de formação PNAIC. Analisar as sugestões de fichas de acompanhamento da aprendizagem, disponíveis na Unidade 1 (Ano 1, p. 38 a 41) (Ano 2, p. 36 a 41) (Ano 3, p. 36 a 42)